terça-feira, 12 de janeiro de 2010

1. É COM MUITO PRAZER QUE HOJE RECEBEMOS UM DOS ALICERCES DO METAL ROCK NO BRASIL, O GRANDE GUITARRISTA DARIL PARISI, QUE FOI INTEGRANTE DE UMA DAS MELHORES BANDAS BRASILEIRAS NOS ANOS 80 E QUE SEGUIU UMA TRAJETÓRIA IMPAR NOS MEIOS MUSICAIS.

DARIL, NOS CONTE INICIALMENTE COMO FORAM SEUS PRIMEIROS CONTATOS COM A GUITARRA E QUAL É A SUA FORMAÇÃO MUSICAL.



RESP: Eu iniciei minha trajetória em 1975. Queria aprender a tocar Rock, mas não existiam escolas de guitarra para isso, pois o sentimento de nacionalismo que se instalava devido a repreensão da ditadura e o movimento da bossa nova ainda afrontavam muito a "música estrangeira". Acabei estudando violão erudito no conservatório Bella Bartok, onde 3 anos mais tarde fui convidado para implantar aulas para os iniciantes de Guitarra, pois eu respirava rock nessa época, mas paradoxalmente estudava todos os métodos do Joe Pass (guitarrista de Jazz).



Escrevi o primeiro método de guitarra do Brasil. Foi lançado em 1983 pela Editora BMG-RICORDI, o qual é distribuído em 15 países e recentemente dividimos o Royalt com a editora americana HAL LEONARD para distribuição do método em inglês para mais 40 países.

Sou guitarrista há 35 anos, atuei em todas as gravadoras nacionais e multi-nacionais, gravando com inúmeros artistas de diversos estilos, mas a maior requisição era para trilhas publicitárias, cinema, jingles e vinhetas para programas de rádio e Tv.



2. O PLATINA SEM DÚVIDA POSSUIA UM DOS INSTRUMENTAIS MAIS ELABORADOS ENTRE AS BANDAS DOS ANOS 80, COMO FOI A RECEPÇÃO DO PÚBLICO NA ÉPOCA E COMO VOCÊ ANALISA , HOJE, PASSADO MAIS DE 20 ANOS A BANDA ESTAR SENDO RESGATADA POR MUITOS JOVENS QUE BUSCAM INFLUENCIAS NO SOM PRODUZIDO PELO PLATINA

RESP: O curioso é que o PLATINA tem somente um EP com 6 faixas, mas a execução espontânea em diversas rádios e a quantidade de shows e eventos televisivos foram muitos. Esse fato projetou a banda em âmbito nacional, principalmente pelos covers, que eram fiéis, já que naquela época não se tinha a oportunidade de ver as grandes bandas de Rock famosas por aqui. Nós éramos uma atração, muito mais pelos covers do que pelo repertório próprio. Inclusive, um amigo achou um show gravado no parque do Carmo num projeto da Paulistur e SKOL, onde levamos mais de 15 mil pessoas. Apesar do VHS estar um tanto deteriorado é possível ver como era um show ao vivo do PLATINA, creio que seja o único existente... estamos aguardando a postagem no YOU TUBE.

Quanto a influência... Creio que muitas bandas acabaram órfãs por aqui, já que nada é feito para incentivar o público a assistir e prestigiar o novo Rock Nacional.

Não existe uma união, assim como foram os movimentos da bossa nova, jovem guarda, pagode e sertanejo, que mesmo havendo "choque de egos", seus empresários, inteligentemente, conhecem a estratégia de reunir vários artistas de um mesmo estilo para criar uma moda musical... apesar do Rock não ser moda e sim um modo de vida que resiste as manipulações comerciais da mídia.

3. NOS ANOS 80 MUITOS SHOWS OCORRIAM E VOCÊS COMO UMA DAS BANDAS PIONEIRAS ESTAVAM SEMPRE PRESENTES, ME LEMBRO DE UM SHOW REALIZADO NA PRAÇA DO ROCK NA ACLIMAÇÃO. QUAIS SÃO SUAS LEMBRANÇAS DAQUELE PERÍODO?

RESP: A praça do Rock era uma grande oportunidade para bandas novas aparecerem, cuja proposta era apresentar-se no mesmo dia junto a alguma banda já com certa fama. Era muito bem intencionado, já que o diretor (Dalan) do evento era um roqueiro nato e também tinha uma banda de rock, não faltava adrenalina e participação de um público fiel que comparecia em todas as edições, o que era muito gratificante. Nessa época a 97FM e a 89FM eram as rádios divulgadoras dos eventos patrocinados pela PAULISTUR, mas com a sua extinção, a praça do rock acabou.







4. Nos anos 80 surgiram alguns movimentos mais radicais dentro do Metal Rock, como o Power, Thrash, Speed,. Death, Black e tantos outros termos que dividiram o movimento. O Platina chegou a sofrer algum tipo de preconceito por parte desse público? 

R: Não. Naquele tempo nós tinhamos afinidade com qualquer banda, inclusive o João Gordo era meu amigo, frequentava minha loja na galeria e o Charles Gavin vivia em nossos shows, assim como o pessoal do Cérbero e Corzus, o Sepultura dividiu 2 ou 3 shows conosco, sob a produção do ÚNICO idealista afim de unir as bandas de rock em São Paulo, o meu grande amigo CELSO BARBIERI, um batalhador injustiçado e que foi muito mal reconhecido por quase todas as bandas qe ele ajudou.

5. Entre os covers do Platina estavam alguns do Whitesnake que eram maravilhosos. Como você disse faltavam shows no Brasil e as bandas covers eram alternativas para o público. Os grandes shows começaram com o Queen, Kiss, Van Halen e principalmente o Rock in Rio. Que lembranças você tem desse período? 

R: Bom desses 3 shows, o Andria e o Ivan e eu fomos em 2 ao vivo (Kiss e Van Halen), ficamos perplexos com a super produção, mas era como um sonho, ninguém tinha tanto dinheiro, nem o movimento Rockeiro chamava atenção da grande mídia na época (desunião = égo cheio e bolso vazio)... era realmente uma quiméra pensar em algo com metade daquela estrutura. Me lembro de eventos paralelos televisados que participamos, como o SampaRock Show (BAND0) no autódromo de interlagos. No dia em nos apresentamos, tocaram o Robertinho do Recife e banda, Papeu Gomes, RPM e para encerrar Tim Maya... tudo haver... Também fizemos o RocK'n SAMPA no extinto Radar Tantã (produzido por Celso Barbieri), dividindo esse show com o MADE IN BRAZIL, o SEPULTURA e o KORZUS. (Tv Cultura). Fizemos até uns PERDIDO na NOITE com o Fausto Silva na RECORD.

Rock in Rio, uma mega produção, onde o Roberto Medina, que fez uma salada de bandas e estilos, coisa de quem pensa só em dinheiro. Acabou chocando públicos diferentes no mesmo dia para ver estilos, radicalmente, antagônicos. Valeu pelas Bandas de Rock mesmo, o resto era modismo sustentado pelos intere$$es da gravadoras e seus alienadores sonoros do povão.

6. Minha primeira guitarra foi comprada numa loja na galeria do rock. A pessoa que me indicou tocava muito e deu um show kakakkka. Como você vê a galeria ontem e hoje? Ainda merece o título de galeria do rock? E a loja? O guitarrista, que hoje gentilmente nos atende realmente já era um dos grandes músicos do Brasil. 

R: Eu tinha 3 lojas de instrumentos em São Paulo, essa da Galeria, (vendi para a PLAYTECH em 1995), outra no Shopping PENHA e a remanescente em Santana. Agradeço o carinho dessa pergunta e espero que você tenha ficado satisfeito com a guitarra. As Grandes Galerias ou "Galeria do Rock", merece o título sim e hoje mais que nunca por ser o maior "point" de encontros de várias tribos de rock. No início existiam 3 lojas: Music House, Grilo Falante e a pioneira das gravações, a Baratos Afins. Foi graças aos Luiz Calanca qua surgiu um facho de luz para bandas novas de Rock, embora muita gente tenha vindo no embalo, LUIZ CALANCA foi e sempre será o Grande idealizador e propul$$$or do ROCK BRASILEIRO.



7. Sei que você é fanático pelo Hard Rock. Que bandas você escuta atualmente. A frase Rock is dead tem sentido nos tempos atuais? 

R: Eu sou Rockeiro mesmo, mas precisei trabalhar para sustentar minha família na década de 80, então não podia me dar ao luxo de escolher estilos, pois Rock sempre foi e é restrito a bares e casas tradicionais desde os anos 70 (Fofinho, Led Slay, Black Jack, Casebre), não dá pra ganhar a vida trabalhando nesse nixo é bom só para os donos. Trabalhei em absolutamente todas as grandes gravadoras e produtoras de jingles entre São Paulo e Rio de Janeiro. Gravei desde sertanejo até os bumbuns da vida... não quero citar ninguém em especial. mas foram dezenas de "artistas".

Rock is dead para quem está dead... (uma vez Flamengo sempre flamengo...) aliás sou Corinthiano.. hehehe. O rock atual tem algumas bandas ainda no feeling tradicional, CREED, AUDIO SLAVE, NICKELBACK e os dinossauros ainda estão por ai...

8. Você  citou algumas rádios que levavam o rock adiante e que infelizmente fecharam. Temos dois projetos destinados a esse público esquecido pela grande mídia a Rádio a Ferro e Fogo que funciona apenas aos domingos http://rockmetalbrasil.listen2myradio.com/ e a STAY ROCK BRAZIL ( do amigo Renato Menes) http://www.stayrock.com.br/. Quando tiver um tempinho passe por aqui e emita sua opinião ok. Sabia que o Platina é uma das bandas mais pedidas no programa Kamikazes do Rock? Por acaso você não tem alguma demo ou som de ensaios para presentearmos os nossos ouvintes? Eu sempre rolo um show ao vivo que foi preservado graças ao companheiro Celso Barbieri que de Londres sempre esta presente em nosso chat. 

R: Essa resposta eu preciso te detalhar assim que achar algo garimpando minhas velhas k7s e videos. O material que meu amigo CELSO tem é do primeiro show no LIRA PAULISTANA, no qual a abertura foi a estréia do VIPER com o André Matos nos Vocais (12 anos de idade).

9. Quando o Platina começou o Brasil vivia um momento de transição da ditadura para a democracia. Num momento tão politizado como aquele, na sua opinião, o rock serviu de porta voz a juventude ou ficou a margem do processo? E os resultados da democracia brasileira? Como você analisa politicamente nosso país?

R: A juventude ficou à margem do processo. Naquela época o jovem queria mais era extravasar suas emoções e comprar discos dos dinossauros e assistir o " rock concert",  "som pop", pois também amansaram as perseguições mais contundentes dos anos 60 e 70.

Ao meu ver o país demorou demais para acordar e está ainda muito "manso" ou tolerante com os "comandantes da democracia". Não existem propostas confiáveis, somente projetos eleitoreiros (bolsa família). Roubam na cara de todo mundo, todo mundo sabe que a esmagadora maioria dos políticos são desonestos, mas é aquela história: " Cachorro que tem 2 donos acaba morrendo de fome..." ou seja, um espera o outro fazer, o outro espera o outro e assim vai... e ninguém faz nada e o povo continua votando em carta marcada... infelizmente...



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"Músico... nasce pelo ouvido..."






10. COMO VOCÊ ANALISA O PAPEL DA INTERNET DA DISTRIBUIÇÃO DE MÚSICAS E DIVULGAÇÃO DE BANDAS? ESSA NOVA REALIDADE FORTALECEU AS BANDAS? QUE DIFERENÇAS VOCÊ VÊ ENTRE ESSE CENÁRIO E O DOS ANOS 80?

RESP: A internet ainda é um campo tão amplo quanto desorganizado, uma esmagadora quantidade de acessos virtuais para quase nada de resultados reai$, se tem tudo na mão facilmente, o que desvaloriza totalmente o trabalho do artista, quase ninguém quer comprar nada, apenas baixar de graça... porém é a única forma de divulgação de um artista sem recursos financeiros extremos, já que qualquer rádio ou qualquer canal de televisão, independente do tamanho, negociam a execução através do famoso "jabá", com valores absurdos e nada se importando com a qualidade ou conteúdo cultural, aliás isso nunca foi novidade para quem conhece o backstage e os "OFFs" da vida.

"Aqui sonha-se com o Rush, mas acorda-se com o Calypso."

Nos anos 80 ainda existia algumas rádios que buscavam um nicho de mercado para conseguirem destaque se diferenciando por estilo, algumas apostaram no rock... mas aquele "rock pop enlatado" patrocinado pelas multi-nacionais... DEGRADÊ, RPM, METRÔ, CAMISA DE VENUS, TITÂS... sonífera ilha... e etc... Raro eram as rádios que abriram portas para bandas de Rock mesmo, o que durou poucos mais de 2 anos, depois o "esquemão" foi adotado e as portas se fecharam, sempre por motivos Reai$. Então veio a pirataria... e as gravadoras foram a ruína, assim as rádios passaram a cobrar diretamente dos "artistas".



11. ATUALMENTE QUAL TEM SIDO A SUA RELAÇÃO COM OS MEIOS MUSICAIS? PENSA EM FAZER UMA REUNIÃO DO PLATINA PARA UM EVENTO ESPECIAL?

RESP: Sou produtor musical de trilhas para rádio e TV há mais de 20 anos, mas não me promovo encima disso, pois nem nos créditos da tempo de aparecer em qualquer programação. No próximo ano me dedicarei apenas ao meu Centro musical (loja, escola, studio) e ao Hard Rock por ser o meu estilo de coração, fui convidado para gravar um CD instrumental, mas optei por um híbrido com a participação de amigos de grandes bandas dos anos 80, inclusive o SHEMAN, vocalista do PLATINA; já quanto a formação completa, não creio nessa possibilidade.

12. MUITO OBRIGADO PELA SUA ATENÇÃO, DEIXE UMA MENSAGEM FINAL PARA NOSSOS LEITORES.

Resp: É curioso ver tantas bandas de rock internacionais em turnê no nosso país, levando públicos astronômicos ano após ano e nada acontece por aqui com as bandas nacionais. Mesmo as que abrem os shows ficam reduzidas a moto-clubes e algumas poucas "casas de rock" com cachês suficientes para uma boa cervejada, ou seja, dinheiro para assistir espetáculos o público tem... mas assistir quem e aonde?. Não existe divulgação em mídia de pêso, espaço com infra-estrutura para um evento de rock, cd então.... pode ser muito bem produzido, mas não vende satisfatoriamente.

E tem muita gente comprando guitarra e amando o rock como nunca... pra tocar aonde? ser divulgado por quais meios? e a união dessa comunidade ROCK N' ROLL... continua com o égo cheio e o bolso vazio.

Agradeço a entrevista e compartilho este desabafo, pois nós Rockeiros estamos cansados de ouvir o som alto no carro, no quarto e no home theater...enquanto que o ROCK ao vivo com boa infra-estrutura fica resumido aos eventos internacionais, e no Brasil as bandas de rock não veêm luz além da porta da garagem.



Um big abraccio!

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